O setor de suinocultura brasileira encerra 2024 em um cenário de crescimento na produção e com resultados históricos nas exportações e alta demanda no mercado interno. A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) prevê um incremento próximo de 1%, com base nos dados do IBGE. “O ano de 2024 foi de produção estável em relação a 2023 e deve fechar com crescimento próximo a 1%. Isto era esperado em função da crise prolongada e profunda que afetou o setor até meados de 2023”, explica Iuri Pinheiro Machado, médico-veterinário e consultor de Mercado da ABCS.
Os números do abate acumulados de janeiro a setembro reforçam um cenário de estabilidade. Em comparação ao mesmo período de 2023, houve aumento de apenas 0,8% em toneladas de carcaças e 1,12% em cabeças. “Com ganhos de produtividade, principalmente relacionados à genética, a suinocultura tecnicamente se manteve do mesmo tamanho em relação ao ano anterior”, aponta Machado.
Outro destaque do ano foi o desempenho das exportações, que cresceram cerca de 8% e devem fechar 2024 com volumes recordes. Essa expansão foi acompanhada de um mercado interno aquecido, refletindo em uma valorização significativa do suíno vivo desde maio, com picos de preços no último trimestre do ano.
Para 2025, o setor projeta cautela diante da perspectiva de manutenção dos custos elevados de produção, embora o cenário de exportações permaneça promissor.
No mercado externo, o setor alcançou volumes recordes de exportação, marcando um novo capítulo na história do comércio internacional de carne suína do país. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o total exportado, considerando carne in natura e processados, deve atingir 1,35 milhão de toneladas, representando um aumento de até 9,8% em relação a 2023, quando foram exportadas 1,23 milhão de toneladas.
Foto: Claudio Neves
A principal novidade de 2024 foi a mudança no ranking dos maiores compradores da carne suína brasileira. As Filipinas ultrapassaram a China como principal destino, acumulando 206 mil toneladas embarcadas entre janeiro e outubro, frente às 199,9 mil toneladas adquiridas pelo gigante asiático. “Essa tendência reflete uma maior diversificação de mercados, com destaque também para o crescimento das exportações para México, Japão, Chile e Singapura”, ressalta Machado.
Nos últimos meses do ano, os embarques de carne suína in natura ultrapassaram as 100 mil toneladas mensais, consolidando o desempenho recorde. No acumulado de janeiro a outubro, os volumes exportados superaram em 8,6% os resultados do mesmo período do ano anterior. Comparando com 2021, quando a China concentrava cerca de 80% dos embarques brasileiros, observa-se uma redução significativa da dependência desse mercado, acompanhada por uma expansão para destinos mais exigentes, como México e Coreia do Sul, que passaram a integrar os 10 maiores importadores de 2024.
Para 2025, são projetadas novas marcas positivas no comércio internacional, com exportações previstas de até 1,45 milhão de toneladas, um crescimento de 7,4%. A produção total deve atingir 5,45 milhões de toneladas, aumento de 2% em relação ao ano passado, enquanto a disponibilidade interna e o consumo per capita deverão se manter estáveis em quatro milhões de toneladas e 19 quilos, respectivamente, conforme dados da ABPA.
De acordo com o consultor da ABCS, a estabilidade da produção e o aumento das exportações em 2024 limitaram a expansão do consumo per capita de carne suína no Brasil. Ainda assim, o setor observou uma consolidação importante no mercado interno, impulsionada pelo trabalho contínuo de conscientização e promoção liderado pela ABCS. “Nos últimos anos, a carne suína conquistou uma fatia significativa no mercado de proteínas animais no país, com destaque para o período entre 2019 e 2023. Apesar do aumento nos preços em 2024, reflexo da menor oferta interna, a demanda se manteve elevada, consolidando a carne suína como uma escolha frequente na dieta dos brasileiros”, afirmou.
Os principais insumos da suinocultura, milho e farelo de soja, apresentaram comportamentos distintos ao longo de 2024. Após um período de preços estáveis no primeiro semestre, o milho registrou um aumento significativo nos últimos meses do ano, enquanto o farelo de soja teve uma queda. No entanto, o custo da alimentação, que representa cerca de 80% do custo total de produção, se manteve estável ao longo do ano. “Essa estabilidade, aliada à relação de troca favorável para o suíno, permitiu uma margem positiva para os produtores”, evidenciou o consultor da ABCS.
Médico-veterinário e consultor de Mercado da ABCS, Iuri Pinheiro Machado: “Com a oferta interna limitada e um cenário climático favorável, o próximo ano apresenta uma oportunidade maior de recuperação para o setor, permitindo investimentos em sistemas de produção mais eficientes” – Foto: Divulgação/ABCS
No Sul do Brasil, principal região produtora, o custo médio de produção em outubro foi de R$ 5,74 por quilo, enquanto o preço de venda do suíno vivo alcançou R$ 6,89/kg. Essa relação favorável entre custo e receita permitiu um alívio financeiro ao setor após períodos de crise. “O ano de 2024 pode ser considerado bom para o suinocultor independente, pois houve uma acomodação dos custos e uma reação do preço de venda do suíno, principalmente a partir da metade do ano. Isso garantiu margens positivas ao longo do período”, destaca Machado, ampliando: “Apesar disso, o setor ainda enfrenta desafios relacionados ao alto nível de endividamento acumulado durante a crise e às dificuldades de acesso ao crédito, agravadas pelos juros elevados”.
Para 2025, Machado diz que o processo de pulverização dos mercados deve se intensificar, diversificando os destinos da carne suína brasileira e consolidando a posição do Brasil entre os maiores fornecedores globais da proteína. “Com a oferta interna limitada e um cenário climático favorável, o próximo ano apresenta uma oportunidade maior de recuperação para o setor, permitindo investimentos em sistemas de produção mais eficientes. Contudo, o grande desafio será contornar os juros elevados, que dificultam a ampliação das operações e melhorias estruturais nas propriedades”, aponta o consultor da ABCS.
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Fonte: O Presente Rural