Sábado, 31 de Junho, 2025 Acesse nosso Instagram
21-05-2025

Brasil pode lucrar bilhões com tecnologia de captura e armazenamento de carbono no setor de etanol

Em 2023, o Brasil atingiu um marco histórico na produção de biocombustíveis, alcançando mais de 43 bilhões de litros entre etanol e biodiesel. Apenas de etanol foram produzidos 35,4 bilhões de litros — quase 80 milhões a mais do que o recorde anterior, registrado em 2019. Com esses números, o país se consolida como o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis, segundo o Ministério de Minas e Energia.

Potencial de descarbonização via BECCS

Diante desse cenário, especialistas apontam que o Brasil tem grande potencial para avançar na descarbonização com o uso da tecnologia BECCS (Bioenergy with Carbon Capture and Storage), que consiste na geração de bioenergia com captura e armazenamento de carbono. Essa técnica permite, além de evitar a emissão de gases de efeito estufa, remover COâ‚‚ da atmosfera — um processo considerado “carbono negativo”.

Como funciona o BECCS

O processo envolve o uso de biomassa — como a cana-de-açúcar ou milho — para a produção de biocombustíveis, como etanol e biometano, ou para geração de energia. Durante a queima da biomassa, o COâ‚‚ é separado dos demais gases, recapturado, comprimido e armazenado de forma segura. Com isso, o carbono que seria emitido deixa de ir para a atmosfera, e parte dele é efetivamente removido.

Brasil entre os líderes mundiais em potencial para BECCS

Segundo Isabela Morbach, advogada e cofundadora da associação CCS Brasil, o país tem um dos maiores potenciais para implementar o BECCS, tanto pela forte presença no mercado de etanol quanto pela capacidade ainda pouco explorada de produção de biogás. “Com isso, o Brasil pode se tornar uma referência internacional em tecnologias de captura e armazenamento de carbono”, afirma.

Estudos apontam ganhos bilionários com o BECCS

Um estudo da CCS Brasil estima que o Brasil poderia capturar até 200 milhões de toneladas de COâ‚‚ por ano, sendo 40 milhões dessas apenas com o BECCS. Isso poderia gerar receitas entre US$ 2,7 bilhões e US$ 3,8 bilhões ao ano, dependendo da cotação dos créditos de carbono.

As regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram 87% do potencial de bioenergia do país, com destaque para o estado de São Paulo, que sozinho pode capturar mais de 15 milhões de toneladas de COâ‚‚, sendo 60% disso em plantas de etanol.

Infraestrutura favorece o avanço do BECCS no país

Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o Brasil tem 24% de bioenergia em sua matriz energética — mais que o dobro da média global, de 9%. A EPE destaca que o BECCS oferece forte atratividade para investimentos e pode consolidar o Brasil como ator relevante no mercado internacional de créditos de carbono.

Além disso, a pureza do COâ‚‚ gerado por plantas de etanol a partir da cana-de-açúcar ou milho chega a 98%, o que torna o processo de captura mais eficiente. Por exemplo, estima-se que para cada tonelada de milho processado seja possível capturar até 320 kg de carbono.

Custos mais baixos e alta valorização no mercado de carbono

Isabela Morbach ressalta que o setor de biocombustíveis é o que possui maior potencial de lucrar com o uso de tecnologias de captura de carbono no Brasil. O custo da remoção de COâ‚‚ via BECCS varia entre US$ 20 e US$ 400 por tonelada — bem abaixo da captura direta do ar (DACCS), que pode chegar a US$ 1.000 por tonelada. Além disso, os créditos gerados por remoção são mais valorizados no mercado internacional.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o BECCS já é responsável por capturar 2 milhões de toneladas de carbono por ano no mundo, e o potencial global pode chegar a 190 milhões até 2030.

Projetos pioneiros impulsionam a tecnologia no Brasil

Entre os projetos em destaque no país está a planta da empresa FS, em Lucas do Rio Verde (MT), que utiliza BECCS na produção de etanol. A expectativa é evitar a emissão de 423 mil toneladas de COâ‚‚ por ano, com meta de alcançar 1,8 milhão de toneladas anuais com a ampliação do modelo para outras unidades industriais. A iniciativa é pioneira fora dos Estados Unidos.

Marco regulatório é essencial para avanço do setor

Para consolidar o avanço do BECCS, Isabela defende que é necessário estímulo regulatório. “É preciso que as agências reguladoras avancem na criação de uma base sólida para a regulamentação da captura e armazenamento de carbono e na estruturação do mercado de carbono. Com isso, mais projetos poderão ser estimulados no Brasil”, conclui.

Fonte: Portal do Agronegócio

Veja Mais
PIB atinge patamar recorde pelo 14º trimestre seguido...
Alta na safra e baixa na demanda derrubam preços do tomate nos p...
Brasil conquista abertura de 10 novos mercados para produtos agro...
Queda nos preços do frango reflete maior oferta no mercado inter...
Oferta elevada mantém preços da laranja e lima ácida em queda,...
Exportações dos cafés Suaves Colombianos crescem 24,1% em marÃ...
Queda nos preços do frete rodoviário é apontada pelo Boletim L...
Milho: preços caem no Brasil com boa expectativa para a segunda ...
Produção de ovos com galinhas livres cresce no Brasil e impulsi...
Mercado do açúcar é impactado por incertezas macroeconômicas ...
Mais vistos