Os contratos futuros do açúcar registraram alta nas bolsas internacionais na terça-feira (14), impulsionados pela desvalorização do dólar frente a outras moedas. A fraqueza da moeda norte-americana estimulou a recompra de posições vendidas, revertendo as perdas do início do dia e interrompendo uma sequência de quedas recentes.
No entanto, o alívio foi momentâneo. Nesta quarta-feira (15), o mercado voltou a operar em queda, refletindo preocupações com a produtividade da cana-de-açúcar no Brasil e ajustes técnicos após a recuperação da véspera.
Dólar em queda favorece commodities e impulsiona contratos futuros
A desvalorização do dólar foi influenciada por fatores externos, como os comentários otimistas da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que fortaleceram o euro. Além disso, a paralisação do governo dos Estados Unidos aumentou as incertezas sobre a economia americana, pressionando a moeda e, consequentemente, favorecendo commodities negociadas em dólar — como o açúcar.
Na ICE Futures, em Nova York, o contrato de março/26 subiu 27 pontos na terça-feira, sendo cotado a 15,88 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o de maio/26 avançou 21 pontos, para 15,37 centavos. Já na ICE Europe, em Londres, o açúcar branco também registrou valorização: o contrato de dezembro/25 subiu US$ 6,80, para US$ 450,80 por tonelada, e o de maio/26 teve alta de US$ 4,40, chegando a US$ 444,80 por tonelada.
Preços recuam novamente com ajustes e dados fracos da safra
Após a recuperação, o mercado iniciou o pregão desta quarta-feira em queda. Em Nova York, os contratos futuros para março/26 caíam 1,64%, cotados a 15,62 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os contratos para maio/26 e julho/26 recuavam para 15,11 e 14,96 centavos, respectivamente.
Em Londres, o açúcar branco para dezembro/25 também registrava queda de 1,64%, sendo negociado a US$ 443,40 por tonelada.
Analistas atribuem o movimento de baixa a ajustes técnicos e ao avanço do encerramento da safra brasileira, que vem sendo marcada por queda na produtividade e qualidade da cana.
Produtividade da cana recua 6,5% no Centro-Sul, aponta CTC
De acordo com dados da Plataforma de Benchmarking do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), a produtividade média da cana-de-açúcar na região Centro-Sul caiu 6,5% nesta safra, em comparação com a anterior. Entre abril e setembro, foram registradas 77,7 toneladas por hectare, contra 83,2 t/ha no mesmo período do ciclo passado.
Em setembro, o desempenho ficou praticamente estável — 71,9 t/ha contra 70,4 t/ha em 2024. No entanto, a qualidade da matéria-prima apresentou leve retração: o Açúcar Total Recuperável (ATR) recuou 0,8%, passando de 154 kg/tonelada para 152,7 kg/tonelada no comparativo anual.
No acumulado da safra, o ATR médio é de 134 kg/t, inferior aos 136,8 kg/t do ciclo anterior, reforçando o impacto das condições climáticas adversas sobre a produção.
Desempenho interno: açúcar cristal e etanol têm variações moderadas
No mercado doméstico, o açúcar cristal recuou 0,76%, conforme o Indicador Cepea/Esalq (USP), com a saca de 50 quilos negociada a R$ 115,84. Já o etanol hidratado apresentou leve alta de 0,11%, segundo o Indicador Diário Paulínia, sendo cotado a R$ 2.820,50 por metro cúbico nas usinas.
Perspectivas: safra perto do fim e atenção às condições climáticas
Com a colheita da safra 2024/25 se aproximando do fim, muitas usinas do Centro-Sul devem encerrar as atividades entre o fim de outubro e o início de novembro. Analistas apontam que o rendimento atual não é suficiente para estender o período de moagem, e alguns já falam em uma possível “morte súbita” da safra.
O setor sucroenergético segue atento ao comportamento do câmbio e às condições climáticas, fatores que devem continuar ditando o ritmo dos preços nas próximas semanas.
Fonte: Portal do Agronegócio