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29-10-2025

Carne livre de desmatamento ganha selo próprio no Brasil

Faltando menos de duas semanas para o início da COP 30, em Belém (PA), o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) lança o sistema de certificação Beef on Track (BoT), o primeiro no mundo a certificar uma carne livre de desmatamento.

Em harmonia com a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira, que se alicerça na meta de reduzir o desmatamento e as emissões provenientes da agropecuária, o BoT responde também a uma necessidade do setor. “Hoje parte da produção pecuária nacional já está isenta de desmatamento e atende a requisitos de conformidade legal e social, mas não há um instrumento que dê visibilidade a isso. O BoT vem preencher essa lacuna. Com a certificação, a carne livre de desmatamento será identificada por um selo que permitirá seu rápido reconhecimento pelo mercado – sejam varejistas, importadores ou consumidores finais”, afirma Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora.

O selo tende a se tornar um facilitador também para os frigoríficos que exportam para mercados que buscam produtos livres de desmatamento, a exemplo da União Europeia (com a Lei Antidesmatamento, que entrará em vigor no início de 2026), do Reino Unido (que editou a Environment Act 2021 para eliminar desmatamentos de sua cadeia de fornecimento) e da própria China, que tem acordos com o Brasil para um comércio bilateral livre de desmatamento e é o principal destino das exportações brasileiras de carne.

Não por acaso o BoT já conta com adesão das empresas que compõem a Tianjin Meat Association, da China. Pela parceria estabelecida, a Tianjin se dispõe a comprar pelo menos 50 mil toneladas de carne identificadas com o selo BoT até junho de 2026, o equivalente a 2,5 mil contêineres de 20 toneladas. Também internamente importantes instituições manifestaram apoio formal à iniciativa, tais como Tropical Forest Alliance, Proforest, Amigos da Terra, World Resources Institute (WRI), World Wide Fund for Nature (WWF) e National Wildlife Federation (NWF).

Foco no desmatamento

Com quatro níveis de certificação, o BoT irá analisar informações da cadeia da pecuária de corte, certificando-se da inexistência de desmatamento ilegal e de produção de gado em áreas sob embargo ou em terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas. Também será exigida a não figuração em listagens de trabalho análogo à escravidão. Para os níveis mais elevados, será preciso comprovar desmatamento zero.

Os produtos certificados receberão um selo aplicado diretamente nos cortes de carne, o que permitirá ao consumidor final, em qualquer parte do mundo, fazer sua escolha na gôndola do supermercado. Há previsão de campanhas para promover o entendimento do selo e seu impacto positivo na conservação de florestas e no respeito aos direitos humanos. Internacionalmente, haverá campanhas e roads shows para os mercados chinês e europeu: “Muitos mercados internacionais precisam de produtos sem desmatamento para cumprirem seus compromissos climáticos. Mostrar de modo transparente e acessível que a carne brasileira é livre de desmatamento será uma vantagem competitiva”, explica Marina.

Para facilitar a percepção do consumidor e guiar sua escolha, a leitura do selo é bastante intuitiva: quanto mais alta a barra verde, mais floresta está sendo monitorada. A ambição é que os frigoríficos transitem gradualmente para os níveis mais elevados da certificação, indo de bronze a platinum, conforme os requisitos de cada categoria.

  • BoT Bronze – todos os fornecedores diretos estão livres de desmatamento ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas;
  • BoT Prata – todos os fornecedores diretos estão livres de desmatamento legal ou ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas;
  • BoT Ouro – todos os fornecedores diretos e indiretos estão livres de desmatamento ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas;
  • BoT Platinum – todos os fornecedores diretos e indiretos estão livres de desmatamento legal ou ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

Trilha verde

Marina Piato, diretora executiva do Imaflora: “São protocolos consolidados junto ao setor. O Boi na Linha, por exemplo, tem mais de 15 anos”

A certificação criada pelo Imaflora tem como instrumento um sistema de monitoramento, relato e verificação (MRV) baseado em protocolos já existentes e pactuados com o setor, como o Boi na Linha, utilizado pelo Ministério Público Federal para monitorar os frigoríficos signatários do Termo de Ajustamento de Conduta da Carne na Amazônia Legal, e o Protocolo do Cerrado, de adesão voluntária.

Para fornecedores com ciclos completos e sistemas privados de rastreabilidade desde a origem, o BoT tem como referência também as regras do Grupo de Trabalho de Fornecedores Indiretos (GTFI), além do Deforestation Free Commitment (DFC) mínimo criteria para aqueles que adotam o desmatamento zero como critério central. “São protocolos consolidados junto ao setor. O Boi na Linha, por exemplo, tem mais de 15 anos. Essa compatibilização é muito positiva, por diminuir o custo da certificação, que tem como principal componente gastos relacionados aos sistemas de gestão para o monitoramento da cadeia de fornecimento”, explica Marina, acrescentando que, no estágio atual, um frigorífico com 95% de conformidade com o Boi na Linha ou com o Protocolo do Cerrado é automaticamente elegível ao BoT, bastando solicitar ao Imaflora aprovação para o uso do selo.

Ela esclarece ainda que, no próximo ano, serão desenvolvidos protocolos equivalentes para outros biomas brasileiros, como Mata Atlântica, Pampas e Caatinga, assim como as regras para transição de nível no BoT.

Fazendas não são auditadas diretamente, pois o BoT destina-se à cadeia de compra dos produtos provenientes da pecuária de corte, como frigoríficos, curtumes, varejo e importadores. Também bancos e instituições financeiras e do mercado de capitais podem utilizar a certificação para conferir maior segurança de conformidade legal e social a operações de crédito ou emissões de títulos baseados nesse ativo.

Cada planta de abate será auditada individualmente e pode acontecer de um mesmo grupo frigorífico, por exemplo, ter plantas com diferentes níveis de conformidade socioambiental, o que implicaria BoT de níveis diferentes para cada uma delas. A fim de assegurar a integridade do sistema, o selo será aplicado nas peças e não por lotes, adotando um sistema de balanço de massas. Significa, por exemplo que, se for comercializado um lote de dez cabeças com certificação BoT Bronze e cinco cabeças com certificação BoT Prata, o comprador receberá, na prática, vinte picanhas BoT Bronze, dez BoT Prata e assim com os demais cortes.

As auditorias serão anuais e uma característica do BoT é o compromisso por parte dos certificados de evoluir dentro da régua de requisitos, apresentando progressos contínuos. A implementação começará em 2026, tendo como ponto de partida o engajamento da Tianjin Meat Association.

Próximos passos

De acordo com Marina, o avanço dos programas de rastreabilidade dos governos federal e estaduais deve contribuir para dar escala a essa certificação e espera-se que no futuro ela seja homologada pela plataforma AgroBrasil +Sustentável, uma vez que os critérios do Boi na Linha e do Protocolo do Cerrado vêm sendo incorporados pelo sistema que o SERPRO está elaborando como base de dados da plataforma federal.

Parcerias com instituições empresariais, particularmente frigoríficos, também devem ser estabelecidas, contribuindo para diminuir os custos da operação do sistema. “O BoT chega para dar visibilidade às boas práticas da pecuária e criar oportunidade para o engajamento de novas empresas. O sistema comporta diferentes realidades de produção e traz o compromisso de evoluir na escala de conformidade até o desmatamento zero, o que o torna, simultaneamente, inclusivo na implementação e ambicioso nos objetivos”, ressalta Marina.

Fonte: Assessoria Imaflora

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