O mercado do arroz no Brasil continua enfrentando desvalorização. Segundo o Agro Mensal, relatório divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, os preços permaneceram abaixo do valor mínimo definido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), refletindo o excesso de oferta e os altos estoques internos.
Em outubro, o arroz foi comercializado a uma média de R$ 58,07 por saca de 50 kg no Rio Grande do Sul, o que representa uma queda de 9% em relação a setembro. Nos primeiros dias de novembro (1º a 14/11), a desvalorização continuou, chegando a R$ 55,75/sc, recuo adicional de 4%.
No mercado internacional, o cenário também é de baixa. Nos Estados Unidos, o arroz na Bolsa de Chicago (CBOT) encerrou outubro com redução de 6%, cotado a US$ 236/t. Já na primeira quinzena de novembro, o preço recuou mais 4,2%, atingindo US$ 224/t.
Governo anuncia pacote de R$ 300 milhões para apoiar o setor
Com os preços domésticos abaixo do piso estabelecido pela Conab — R$ 63,64/sc —, o governo federal anunciou em 22 de outubro um pacote emergencial de R$ 300 milhões para ajudar no escoamento da produção. O objetivo é retirar do mercado até 630 mil toneladas de arroz.
Os recursos, originalmente destinados a contratos de opção da safra 2025/26, foram antecipados e serão executados por meio de três mecanismos:
Apesar de ajudar a aliviar parte da pressão sobre o setor, o pacote não deve ser suficiente para resolver completamente a crise enfrentada pelos produtores.
Oferta supera consumo e pressiona preços internos
O principal fator que mantém os preços baixos é o desequilíbrio entre oferta e demanda. A produção nacional cresceu 21% nesta safra, mas o consumo interno não acompanhou o mesmo ritmo, mesmo diante da queda nos preços.
Esse cenário deve resultar em estoques de passagem superiores a 2 milhões de toneladas ao final do ciclo (fev/26), o que deve continuar pressionando o mercado e dificultando a recuperação das cotações.
Conab reduz estimativas para área e produção da safra 2025/26
Com a rentabilidade comprometida, a Conab revisou para baixo suas projeções para a próxima safra. A área cultivada deve cair para 1,6 milhão de hectares, uma redução de 7,1% em relação a 2024/25. A produção também deve encolher 11,5%, reflexo do desestímulo causado pelos preços pouco atrativos.
Mesmo com essa retração, o estoque de passagem elevado deve manter o mercado abastecido, resultando em um balanço confortável entre oferta e demanda em 2025/26.
Exportações ganham relevância na estratégia de escoamento
Para evitar o acúmulo de arroz no país, o aumento das exportações surge como principal alternativa. A Conab projeta embarques de 2,1 milhões de toneladas na próxima safra, o que representa alta de 31% em comparação com o volume estimado para 2024/25.
A valorização do dólar também contribui para tornar o produto brasileiro mais competitivo no mercado externo, aumentando a atratividade para os produtores.
Cenário global reforça tendência de preços baixos
O mercado internacional segue pressionado. As boas condições climáticas na Ásia, principal região produtora de arroz, têm favorecido a colheita e ampliado a oferta global. Isso mantém os preços internacionais sob pressão, com reflexos diretos sobre o mercado brasileiro.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de arroz deve atingir 541 milhões de toneladas (arroz beneficiado) em 2025/26 — praticamente estável em relação ao ciclo anterior, mas ainda em níveis elevados, o que contribui para manter o viés de baixa nos preços.
Fonte: Portal do Agronegócio