O mercado brasileiro de arroz encerra novembro em ritmo lento e com pouca movimentação. Segundo o analista e consultor da Safras & Mercado, Evandro Oliveira, as negociações permanecem praticamente paradas e os preços seguem apenas nominais.
“A liquidez é mínima, os compradores continuam praticamente ausentes e o ambiente permanece dominado por cautela e espera”, resume o especialista.
A falta de dinamismo no setor reflete a insegurança entre agentes de mercado, que preferem aguardar sinais mais claros de demanda e estabilidade econômica antes de retomar as compras.
Crise de crédito agrava situação do produtor
O cenário é agravado pela crise de crédito mais severa desde o Plano Real, conforme avaliação da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). A dificuldade de acesso a financiamento tem reduzido a capacidade de capitalização dos produtores e pode forçá-los a vender parte da produção ainda neste fim de ano para gerar liquidez.
Essa possível ampliação da oferta no mercado spot pode provocar nova pressão sobre os preços, que já acumulam quedas consecutivas ao longo do segundo semestre.
Expectativas de câmbio em 2025 trazem incertezas
Apesar do momento negativo, há expectativa de que uma eventual alta do dólar em 2025 — impulsionada por incertezas eleitorais e deterioração fiscal — possa favorecer as exportações de arroz brasileiro e reduzir as importações.
Contudo, Oliveira alerta que o câmbio, mesmo mais valorizado, não soluciona os problemas estruturais que afetam o setor. “O câmbio não corrige as distorções que vêm moldando o cenário atual”, reforça o analista.
Indústria enfrenta retração e concentração
O setor industrial do arroz passa por um processo de encolhimento e concentração, resultado direto das crises climáticas, aumento das importações e necessidade de modernização tecnológica.
De acordo com Oliveira, o fechamento de unidades e a fusão de empresas têm concentrado o mercado em poucos grandes grupos, que passam a deter maior poder de barganha e influência sobre preços e ritmo de compra.
Produtores migram para culturas mais rentáveis
No campo, o arroz enfrenta um êxodo produtivo gradual. O baixo retorno financeiro e os custos elevados — muitas vezes acima dos preços de venda — têm levado produtores a migrar para outras culturas mais rentáveis.
“Custos totais superiores aos preços de venda e sucessivos ciclos de prejuízo impulsionam a redução de área plantada e comprometem a continuidade produtiva”, explica Oliveira.
Preços seguem em queda no Rio Grande do Sul
O principal estado produtor, Rio Grande do Sul, registrou queda de 0,17% no preço médio da saca de 50 kg de arroz (58/62% de grãos inteiros, pagamento à vista), que encerrou a quinta-feira (27) cotada a R$ 53,38, segundo dados da Safras & Mercado.
Na comparação mensal, a baixa chega a 6,71%, enquanto no acumulado de 2024, a desvalorização atinge expressivos 48,96%, refletindo o cenário de fragilidade do setor.
Fonte: Portal do Agronegócio