O segundo trimestre de 2025 trouxe um cenário adverso para o setor sucroenergético brasileiro, com quedas expressivas nos preços do açúcar e uma combinação de fatores que têm pressionado o mercado. De acordo com relatório do Rabobank, a cotação do açúcar bruto na Bolsa de Nova York recuou cerca de 18% desde o início de abril, girando em torno de 16 centavos de dólar por libra-peso ao final de junho. Em reais, a desvalorização foi ainda mais intensa, chegando a 21%, impulsionada pela valorização do real frente ao dólar.
Desempenho da safra ainda incerto
No Centro-Sul do Brasil, até o fim de maio, a moagem acumulada da safra alcançou 124,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O mix de produção favoreceu o açúcar, com 50% desde o início da safra e 51,9% na última quinzena de maio. No entanto, a qualidade da matéria-prima, medida pelo teor de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), ficou 4% abaixo da safra anterior — tanto no acumulado quanto na quinzena final de maio.
O dado mais esperado para avaliar o desempenho da safra — a produtividade média dos canaviais em maio — ainda não foi divulgado pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o que gera incertezas. Como cerca de 80% da moagem ainda está por vir, a visibilidade sobre a produção total de açúcar permanece limitada. Por ora, o Rabobank projeta uma moagem total de 593 milhões de toneladas de cana, com 51,5% de mix para açúcar e produção estimada em 41 milhões de toneladas do adoçante.
Mercado internacional e comportamento dos fundos
O cenário externo também contribui para a pressão sobre os preços. A expectativa de aumento na produção da Índia e da Tailândia, somada ao enfraquecimento do dólar, pode ter incentivado uma onda de vendas tanto no Brasil quanto em outros países exportadores. A Índia deve registrar um incremento de 6 milhões de toneladas na próxima safra, totalizando 32 milhões de toneladas, enquanto a Tailândia deve crescer 0,7 milhão, alcançando 11,6 milhões de toneladas.
A reversão no balanço global de açúcar, que deve passar de um déficit de 3,8 milhões de toneladas em 2024/25 para um superávit de 3,9 milhões em 2025/26, também pesa sobre as cotações. O Rabobank destaca que, apesar da estabilidade nos fundamentos ao longo dos últimos seis meses, os fundos especulativos continuam a ampliar suas posições líquidas vendidas, o que tem contribuído para a volatilidade.
Efeito etanol e política energética
Outro fator que influencia o mercado é o preço dos combustíveis. No início de junho, a Petrobras reduziu em 5,6% o valor da gasolina nas refinarias. Embora esse corte represente uma queda de cerca de 2% no preço ao consumidor final em São Paulo, sua influência no mercado de etanol é limitada. Ainda assim, o governo federal sinalizou que pode elevar a mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina para 30%, o que, caso concretizado, pode aumentar a demanda por etanol no médio prazo.
Diante de um cenário caracterizado pela desvalorização do açúcar no mercado internacional, fortalecimento do real, incertezas sobre a produtividade da safra e movimentos especulativos dos fundos, o setor sucroenergético brasileiro enfrenta o que o Rabobank descreve como uma “tormenta perfeita”. A definição dos rumos da safra dependerá, nas próximas semanas, da divulgação de dados de produtividade e de eventuais desdobramentos na política energética e no mercado global de commodities.
Fonte: Portal do Agronegócio